Autonomia Moral

 Autonomia Moral: como desenvolver na escola 

Saiba tudo sobre a Autonomia de Piaget e Kant, e como estimular seus alunos na criação de seu Projeto de Vida autônomo.

A autonomia moral possibilita o bom convívio em sociedade através da autogestão e da responsabilidade social, portanto, desenvolvê-la é parte da nossa formação pessoal e cidadã.

Crianças e jovens precisam ser estimulados na construção de sua autonomia desde o início da escolarização e, por esta razão, educador, nós da Kuau queremos compartilhar conhecimentos e práticas para estimular a autonomia de seus alunos.

Neste post, vamos apresentar o conceito de autonomia a partir da obra de Kant e Piaget, e analisar como desenvolvê-la no âmbito escolar a partir dos princípios básicos da BNCC, que enfatizam o Projeto de Vida e a formação de alunos protagonistas.

“Ser autônomo significa governar a si mesmo e tomar atitudes baseadas em escolhas autorais, refletidas de acordo com sua própria razão e valores morais.”

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Autonomia para Kant

Para Immanuel Kant, um dos mais importantes filósofos da era moderna, ter autonomia significa agir por vontade própria, porém tendo sua independência guiada por princípios de moralidade. Ou seja, ser autônomo é ter a capacidade de pensar sobre questões éticas e tomar decisões de caráter moral. 

Kant propõe que a autonomia é tanto um direito como uma construção e, como qualquer construção, é conquistada de forma gradual e por etapas. Para isto, ele determina uma escala de desenvolvimento da questão, expondo fases anteriores até que se alcance a autonomia: a anomia e a heteronomia.

Anomia

Esta fase se caracteriza pelo completo desconhecimento das regras da sociedade, assim, o sujeito por ser ignorante à existência das normas, não tem a capacidade de segui-las e respeitá-las.

Heteronomia

Nesta etapa, o indivíduo já compreende a existência básica das normas sociais, porém segue estas regras e as  sente como obrigatórias por conta do respeito unilateral a uma autoridade. Ou seja, aqui a norma provém do outro, há uma imposição de valores a serem respeitados, mas são seguidos por conformismo ou para evitar castigos.

Autonomia

É a capacidade de decisão própria do que é, ou não, correto moralmente, levando em conta valores relevantes que foram internalizados e o respeito que antes era unilateral, dá lugar ao respeito mútuo e recíproco. Nas relações cooperativas do estágio de autonomia, muito mais que apenas cumprir regras existentes, o mais importante é a compreensão do princípio associado à regra e a intenção do sujeito ao cumpri-las.

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Autonomia para Piaget

Jean Piaget, um dos mais importantes teóricos da psicologia da aprendizagem, a partir das definições de Kant, realizou uma série de estudos sobre o desenvolvimento da autonomia em crianças e adolescentes.

Para Piaget, na infância, a criança evolui da anomia para a heteronomia, conforme aprende a interagir com adultos e outras crianças. O indivíduo evolui para a autonomia a partir da fase da adolescência com a formação da identidade, seus próprios valores e compreensão das normas sociais. 

Para o desenvolvimento da autonomia moral, o importante não é a absorção de normas sociais e suas práticas, mas compreender o porquê as praticamos. O indivíduo verdadeiramente autônomo cumpre as normas morais porque estas surgem de sentimentos interiorizados que o levam a considerar outros além de si, havendo reciprocidade.

“O valor moral de uma ação não está na mera obediência às regras determinadas socialmente, mas sim no princípio inerente a cada ação”.

Autonomia é sinônimo de Liberdade?

O conceito de autonomia proposto por Kant e Piaget não é liberdade indiscriminada, como conhecemos pelo senso comum. Por isso, o exercício da liberdade sem juízo moral não é autonomia. 

Para Telma Vinha, doutora e pesquisadora em educação, é importante não confundir autonomia com individualismo. Na autonomia é preciso coordenar os diferentes fatores relevantes para decidir agir da melhor maneira para todos os envolvidos.

Somando a isso, o sujeito autônomo, ao tomar decisões, leva em consideração as próprias perspectivas e também as dos outros, seus sentimentos e direitos.

A liberdade associada ao juízo moral é fundamental para o desenvolvimento de alunos capazes de viver em sociedade civilizadamente, regidos por valores e princípios humanos. A autonomia moral pode ser compreendida a partir de quatro pilares presentes na obra de Piaget (Caetano, 2009): 

  • Obediência: este pilar da autonomia moral indica a obediência como adesão a valores justos e de comum acordo, que não são mantidos por opressão de uma autoridade, mas sim por respeito e consciência das repercussões de seus atos;
  • Justiça: como equilíbrio que compõe as relações, a noção do que seria justo e injusto, algo elaborado a partir da construção dos relacionamentos de colaboração.
  • Liberdade: o pilar da liberdade se refere ao direito que o indivíduo possui de pensar e refletir sobre seus princípios, de se expressar e também de ser quem deseja ser, sendo esta liberdade em proporção adequada quanto a condição do indivíduo e a fase de sua vida.
  • Respeito: O respeito como pilar fundamentado nas relações de reciprocidade, onde há consideração pelo outro, também significando cooperação mútua e empatia.

Protagonismo e Autonomia em destaque

A escola tem um papel central no desenvolvimento moral do adolescente, uma vez que o desenvolvimento da moralidade depende da qualidade das relações e dos ambientes sociais do indivíduo. A escola como um espaço de aprendizagem e convivência é, sem dúvida, um dos lugares mais propícios para isso.

A  Base Nacional Comum Curricular (BNCC) destaca que muitas das competências se relacionam com o desenvolvimento e exercício da autonomia e protagonismo dos alunos:

  • desenvolver o pensamento crítico dos alunos; 
  • promover o autoconhecimento dos jovens;
  • fortalecer sua empatia;
  • incentivar o exercício da cooperação e da resolução de conflitos.

Além disso, a BNCC enfatiza que a escola deve estimular os alunos a agirem com responsabilidade e cidadania, tomando decisões éticas, inclusivas e solidárias.

Portanto, guiada por tais diretrizes e sendo um espaço de cooperação, a escola consegue promover e estimular o desenvolvimento da autonomia.

Entretanto, se a instituição toma um perfil menos colaborativo e mais autoritário, os esforços em torno de transformar seus alunos em cidadãos autônomos e protagonistas não são bem aproveitados.

Afinal, o que está sendo promovido é uma cultura heterônoma e de obediência, onde o obedecer não ocorre necessariamente por respeito às regras, mas por temor às consequências negativas das transgressões.

Desenvolvimento de Alunos Autônomos

O espaço de protagonismo do aluno na escola influencia totalmente no resultado do desenvolvimento da autonomia.

Desenvolver uma ação de forma que a determinação venha apenas do educador já é, em parte, estabelecer uma relação de dependência desde o princípio da ação, o que pode se prolongar durante todo o realizar da atividade até seu resultado, ou seja, o interesse e motivação partem somente do educador.

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O desenvolvimento da autonomia ocorre de acordo com a colaboração e envolvimento do aluno nas atividades

Baseado na obra de Antônio Carlos Gomes da Costa sobre protagonismo juvenil, os educadores e educandos discutem e planejam juntos as ações a serem feitas ou, melhor ainda, o interesse, a discussão e o planejamento partem dos próprios alunos.

Dependência

a iniciativa parte do educador, assim como o planejamento da ação, execução e apropriação dos resultados.

Cooperação

os alunos e educadores discutem e trabalham juntos no planejar, executar e no colher dos frutos da ação realizada em conjunto.

Autonomia

a iniciativa é tomada pelos próprios jovens de forma que eles mesmos planejam o que será feito e organizam todo o processo da ação..

Contudo é importante ressaltar que a autonomia não apaga o papel do educador de maneira alguma. O docente é fundamental como facilitador e estimulador dos seus alunos.

Autonomia e Resolução de Conflitos

O fortalecimento da autonomia visa desenvolver no adolescente competências e habilidades para viver em sociedade de forma civilizada. Portanto, o aluno deve ser capaz de cooperar e buscar formas de minimizar e resolver conflitos.

Casos de indisciplina como agressões físicas e verbais podem eventualmente acontecer dentro da escola, no entanto, a intervenção do educador que procura prevenir ou minimizar os conflitos existentes pode não ser efetiva a longo prazo, como se espera.

Fazer com que o conflito pare não significa que os jovens tenham internalizado valores morais necessários para compreender as consequências do seu ato. Muitas vezes, o aluno pode apenas demonstrar respeito para evitar punições ou por obediência à autoridade.

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Quando o ambiente na escola é mais cooperativo e com mais interatividade social é esperado que surjam confrontos e discordâncias de ideia. Todavia, o conflito é algo natural e até mesmo benéfico para o desenvolvimento das competências de convivência.

“Aproveitar as situações de conflito para estimular a empatia, estimulando o aluno a expressar seus sentimentos e necessidades”.

Por exemplo, em situações de conflito envolvendo mentiras, é possível aproveitar a situação para trabalhar a importância da honestidade e da confiança. Em situações de violência, é propício trabalhar a expressão e reconhecimento de sentimentos e do valor da cooperação através do diálogo.

O ambiente escolar não deve ser caracterizado pela ausência de conflitos, pois isso pode ser alcançado através do rigor da disciplina coercitiva e punição, o que não contribui para o desenvolvimento da autonomia.

A sugestão é priorizar práticas pedagógicas que estimulem os alunos a encontrar soluções para resolução dos seus conflitos de convivência através da liberdade, respeito e justiça

Metodologias Ativas e Autonomia

Existem diversas ações práticas de aprendizagem que a escola pode realizar para estimular a autonomia e o protagonismo de crianças e adolescentes. 

As metodologias ativas são ferramentas que promovem a autonomia dos jovens na escola. Com este recurso, a passividade do estudante é interrompida, o aluno é posto como protagonista e o educador como facilitador e base de apoio. Dessa forma, o educando é capaz de buscar e construir o seu próprio saber.

Selecionamos para você, educador, alguns exemplos de metodologias ativas a serem introduzidas na escola:

Sala de aula invertida: A técnica envolve fazer com que o aluno entre em contato com o conteúdo a ser aprendido antes de ir para a escola, de forma que a sala de aula dê lugar para discussões sobre o tema, atividades e projetos, promovendo a automotivação e empenho, autonomia e colaboração.

Projetos práticos: Esta metodologia implica em sair do ensino teórico e investir no ensino prático, proporcionando o conteúdo a ser aprendido de maneira concreta e inserida na realidade dos alunos, gerando aplicabilidade além de aprendizagem por cooperação.

Estudo de caso:  O método do estudo de caso é uma maneira de utilizar os conhecimentos adquiridos pelos alunos aplicando-os na resolução de fenômenos reais. Com este tipo de ensino é possível agregar valor ao que se é aprendido e dar caráter funcional a estes novos saberes e, similarmente às outras metodologias citadas acima, elicia a autonomia dos alunos na busca do conhecimento e estimula a cooperação entre os jovens.  

Projeto de Vida Autônomo

A conquista da autonomia e construção do Projeto de Vida estão intrinsecamente interligadas. Sem autonomia o indivíduo age pela influência do outro, não se apropriando do seu Projeto de Vida, ou seja, invalida o seu propósito principal, pois não é possível reconhecer as próprias aspirações e objetivos e no final a pessoa não se sentirá realizada.

Sendo autônomo, o aluno tem gestão de si mesmo e compreende os valores que o guiam, suas emoções e sua razão e, portanto, é capaz de tomar decisões com mais autoconfiança e assertividade, sendo protagonista de sua história.

Como resultado, o jovem se torna mais apto a fazer escolhas conscientes de acordo com seus princípios, tanto no campo profissional como pessoal, e também passa a agir com responsabilidade e cidadania em sua transição para a vida adulta.

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