Autonomia e participação cidadã dos adolescentes
Nossa conversa sobre Protagonismo Juvenil em tempos difíceis abordou sobre a parceria transformadora entre escola e família

Por Marina Damasceno, educadora e gerente de relacionamento na Kuau.
Queridos educadores, nosso primeiro encontro online foi excelente! Aprofundamos o entendimento sobre Protagonismo Juvenil e Projeto de Vida com duas convidadas mais que especiais. Resumo aqui os principais tópicos.

Nossa primeira roda de conversa online demonstrou, por meio do depoimento de uma adolescente protagonista engajada com causas sociais, a importância da escola para a formação integral de estudantes. Ao longo da conversa, nossas convidadas deram dicas de como iniciar essa cultura na escola, tendo as famílias como aliadas nesse processo. Também ficou clara a importância dessa mudança paradigmática na educação para o desenvolvimento de competências importantes para o futuro dos jovens e adolescentes.
O que é um adolescente protagonista
A protagonista e ativista social Marina Cunico, de 14 anos, contou um pouco sobre suas ações e projetos sociais que realiza desde os 5 anos de idade e o que tem feito no contexto da pandemia do coronavírus. Ela mobilizou voluntários e contribuições para auxiliar famílias em situação de vulnerabilidade, especialmente impactadas pela situação. E é sobre isso que trata o Protagonismo: a satisfação em fazer, empreender para a vida, ser perseverante e enfrentar problemas reais.
A pedagoga e educadora Ayone Sossai iniciou dizendo que, com toda a correria dos afazeres escolares, acabamos por não escutar os jovens, e essa prática pode ser muito inspiradora. ”Quando a gente fala de Protagonismo, a gente precisa envolver esse jovem como solução de partes do problema. E o primeiro lugar que ele tem a oportunidade de fazer isso é dentro da escola. É participar das soluções pelo olhar dele”, diz a especialista.
Assista à gravação da nossa conversa online sobre Protagonismo Juvenil e Projeto de Vida. Que tal compartilhar com os educadores da sua escola?
O desenvolvimento protagonista
À medida que os estudantes participam e dão luz aos desafios da escola a partir de sua ótica, é que, aos poucos, irão se desenvolver. Ayone ressaltou que é a partir desse processo contínuo que os jovens poderão progredir para uma atuação protagonista autêntica, como é o caso da Marina. As competências mobilizadas em torno do desenvolvimento protagonista foram citadas ao longo da conversa:
- autonomia e responsabilização;
- tomadas de decisão e planejamento;
- consciência social;
- lidar com as emoções;
- ética e transparência;
- criatividade;
- autoconhecimento e motivação;
- oratória e mobilização de pessoas;
- autoestima e autocuidado;
- habilidades de comunicação;
- capacidade de adaptação;
- dentre muitas outras.
Foi discutido ainda sobre a necessidade da escola ser mais responsiva às transformações do mundo. Vivemos em um contexto de imprevisibilidades, incertezas e mudanças cadas vez mais rápidas, nos sendo exigidas habilidades e competências que não são aprendidas apenas nos livros. Falamos, sobretudo, de competências que envolvem ativamente as relações humanas. O papel do educador nisso tudo é muito importante e ele precisa, antes de mais nada, compreender que uma outra abordagem pedagógica é urgente, pois trata-se de uma mudança paradigmática e processual.
Cultura do Protagonismo na escola
A educadora Ayone, que acredita no Projeto de Vida do aluno como elemento central de sua prática pedagógica, ressaltou a importância e o papel que a escola tem no desenvolvimento de crianças e jovens na construção de seus Projetos de Vida. Para iniciar essa abordagem, é básico que o aluno se sinta protagonista de sua própria história – capaz de se conhecer, sonhar, projetar o futuro e realizar.
Como formadora de professores, Ayone reconhece que trata-se de uma ”mudança de chave” na mentalidade do educador. ”É um desafio muito grande, com muita leitura, formação e conversa para entender e fazer com que esse profissional consiga ver desse outro ângulo. Precisa-se mudar essa posição do professor [de detentor do saber], que é delicada e não é fácil (…) e compartilhar com os estudantes… E o principal: ouvi-los também”.



As 3 referências para começar os estudos sobre Protagonismo Juvenil e Projeto de Vida indicados foram: Antônio Carlos Gomes da Costa, a própria BNCC e John Dewey
Apoio familiar no Protagonismo Juvenil
O mediador da conversa, Gilber, trouxe um ponto importante: o desenvolvimento da autonomia do adolescente não é liberdade irrestrita. Por tratar-se de indivíduos em plena fase de desenvolvimento, a família também é chave para impor limites e reforçar o trabalho da escola. ”A construção do indivíduo protagonista faz com que você pare e passe a reconhecer o quanto você precisa respeitar esse protagonista. (…) Tem hora que você tem, de verdade, que segurar, limitar um pouquinho. A família é o balizador”, explica Fabiana – mãe de Marina.
Ayone complementou dizendo que o apoio familiar é fundamental para trabalhar o equilíbrio emocional, os compromissos, as responsabilidades e as expectativas que recaem sobre um adolescente protagonista. Fabiana entrou em cena explicando como ela, na prática, estimula e incentiva a filha nessa jornada, apesar da rotina atarefada que possui. Ela e a filha ressaltaram o incentivo e compreensão da escola em relação aos projetos sociais da protagonista. ”Uma coisa que é um diferencial para o aluno, é quando a escola o apoia nos seus projetos”, disse a ativista juvenil. A mãe disse ainda que as ações protagonistas da filha a auxiliam a ter mais clareza e ter as atitudes necessárias para concretizar seus objetivos de vida, a preparando para o futuro.
Sem o respaldo familiar, é ainda mais desafiador o processo de desenvolver alunos protagonistas. Por isso, Ayone reiterou a importância de promover espaços de discussão e compartilhamento, envolvendo a compreensão e alinhamento desses conceitos dentre os funcionários da escola, familiares, responsáveis e apoiadores da comunidade escolar. Por tratar-se de uma mudança que permeia um choque entre gerações e contextos de mundo diferentes, é papel dos educadores demonstrar domínio sobre a importância e benefícios dessa abordagem para a preparação de cidadãos para o século XXI: solidários, produtivos e autônomos.



Como fazer
A pedagoga também instigou a audiência quando disse que não existe mágica para desenvolver alunos protagonistas. Como qualquer outra transformação estruturante e cultural, o estímulo à prática do Protagonismo dos alunos é algo processual e envolve o esforço coletivo e contínuo da comunidade escolar. O modo de fazer é bastante particular e minucioso, e há que considerar a subjetividade dos estudantes na construção de seus Projetos de Vida.
Apesar da BNCC trazer caminhos e possibilidades, também há o desafio de considerar cada estudante como um ser humano único e cheio de especificidades: ”valorizar e escutar cada estudante, entender e incentivá-lo é o mais importante”, ressaltou Ayone. Para fazer isso, antes de qualquer coisa, há que se ter um alinhamento sobre a compreensão do que é o protagonista e o que ele precisa desenvolver. Não existe uma forma certa ou atividades específicas que irão tornar o aluno protagonista, mas há que se considerar a intencionalidade pedagógica da prática e o desenvolvimento de valores e competências para o século 21 – incluindo as chamadas socioemocionais.
Em um primeiro momento, esse estímulo pode ser realizado com ações pontuais e em formatos diversos como oficinas, projetos, feiras e afins. No entanto, para que a educação seja, de fato, transformadora, é necessário pensar em uma realidade curricular que abrange o protagonismo dos estudantes em todos os componentes curriculares de forma estruturada. Dessa forma, será possível criar as condições necessárias para ter o desenvolvimento do Projeto de Vida como eixo central da escola, conforme normatiza a BNCC.
Programa completo com objetivos de aprendizagem focados no desenvolvimento do Protagonismo Juvenil dos estudantes do Ensino Fundamental II.
Comentamos também sobre a importância de fazer do Protagonismo uma jornada de aprendizagem estruturada e intencional. Por isso, também apresentamos brevemente o Programa de Protagonismo KUALA, que fornece material completo para educadores e atividades presenciais e digitais para os estudantes se desenvolverem protagonistas da própria história.
Para acompanhar as nossas próximas rodas de conversa online, inscreva-se em nossa newsletter logo abaixo:
Competências socioemocionais na BNCC: Entenda o que são! - Blog da Kuau
[…] com foco em educação emocional é essencial para a promoção do pensamento dos alunos com autonomia, bem como visando suas potencialidades. A consequência disso é a redução de indisciplina e a […]